Este texto foi organizado na tentativa de facilitar nossa percepção quanto a existência de um padrão atemporal na concepção e renascimento do Filho, assim como tentar decodificar alguns de seus símbolos no âmbito da Sahaja Yoga.
O texto será dividido em três partes. Precisamos iniciar pelo entendimento do que é o puro desejo. Vejamos o que diz Shri Mataji:
“…há apenas um único desejo que é puro. Qual é o puro desejo? Que devemos nos unir ao Espírito. Devemos nos tornar um com o Espírito. Esse é o puro desejo.” Puja de ano novo, 03/01/1984
“A Kundalini tem um único desejo, que é ser o Espírito e nada mais.” Shri Mahakali Puja, 19/12/1982
“A Kundalini é Gauri.” Puja de aniversário, 21/03/1985
Parte I: A concepção imaculada e renascimento de Shri Ganesha
(Baseado na fala de Shri Mataji no Shri Ganesha e Shri Gauri Puja, 1981, Sydney, Australia9
Tudo tem início com o desejo de Shri Gauri se unir à Shri Shiva, união que é simbolizada pelo casamento. Ou seja, a mãe Kundalini desejando ser una com o Espírito. Quando Shri Gauri decidiu tomar seu banho preparatório para o casamento, ela se preocupou com a possibilidade de alguém ou alguma negatividade a perturbar durante essa preparação. Assim, ela retirou um pó (mala) do seu corpo, o qual contém diferentes fragrâncias celestiais, e com esse pó ela criou o seu filho, Shri Ganesha. Ou seja, ela o criou de forma imaculada. Shri Ganesha é completamente dedicado à sua mãe. Na certeza de que nada iria desviar a atenção do seu filho, Shri Gauri se sentiu segura para ir tomar o seu banho, deixando Shri Ganesha como guardião da porta do seu castelo. Ou seja, enquanto a Kundalini está se preparando para se unir ao Espírito, Shri Ganesha não permitirá a invasão desse castelo, que é o corpo sutil, garantindo que o puro desejo de Shri Gauri venha a se realizar. Por isso, Shri Ganesha é considerado o chanceler de todos os chakras por onde a Kundalini vai passar.
Shri Shiva, o Espírito
Shri Gauri, a virgem imaculada
Quando Shri Shiva chegou ao castelo, sua entrada não foi permitida por Shri Ganesha. Shri Shiva perguntou quem ele era. A criança respondeu que era o filho de Shri Gauri. Shri Shiva ficou furioso com a criança, pois ao dizer que era filho de Shri Gauri, teoricamente, estava maculando o nome da virgem, razão pela qual Shri Shiva cortou a cabeça da criança. Shri Gauri, por sua vez, ao ver o havia ocorrido explicou a Shri Shiva a concepção imaculada da criança e solicitou que ele restituísse a vida do seu filho colocando no lugar da cabeça cortada uma cabeça de um animal que ele encontrasse na floresta. O animal que Shri Shiva encontrou foi um bebê elefante, e assim, usou a cabeça desse animal para restituir a vida de Shri Ganesha. O simbolismo desse episódio está no fato do Espírito (Shiva) eliminar uma cabeça (humana) de onde poderia surgir um ego e um superego, e, no seu lugar, colocar uma cabeça inocente de onde não poderia surgir um ego e um superego, tal qual é a cabeça de um animal, apesar de se tratar do animal mais sábio (elefante). Essa substituição da cabeça feita por Shri Shiva (Espírito) representa o renascimento do Filho pelo Espírito. Veja o comentário de Shri Mataji sobre esse drama simbólico:
“Estava tudo pré-arranjado, pois não era para essa criança crescer nesse negócio humano de ego e superego…(Shri Ganesha e Shri Gauri Puja, 1981)”.
Figura representando a criação de Shri Ganesha por Shri Gauri
Palácio Dória, representando o castelo de Shri Gauri
Representação de Shri Ganesha impedindo Shri Shiva de entrar no castelo da sua mãe sem prévia permissão, atuando como o chanceler do corpo sutil
Figura representando o renascimento do Filho pelas mãos do Espírito (Shri Shiva)
Figura representando o Pai, o Filho e a Mãe (que, no aspecto casada, é representada por Shri Parvati)
Parte II: A concepção imaculada e renascimento de Shri Jesus
A concepção imaculada do Filho se repete na criação de Shri Jesus, evidenciando um padrão. Vejamos o que diz Shri Mataji:
“Mahalaksmi veio a esta Terra e trouxe à luz seu filho através de uma concepção imaculada.” Mahalaksmi Puja, 24/05/1986
“Ele (Jesus Cristo) veio a esta Terra de uma maneira muito especial. Ele nasceu de uma virgem. E como sabemos, Shri Ganesha nasceu da mesma forma. Jesus é a encarnação de Shri Ganesha.” Puja de Natal, 25/12/1999
Shri Ganesha e Menino Jesus
O simbolismo de morte relacionada à eliminação de ego e superego para possibilitar um segundo nascimento livre de ego e superego também se repete, evidenciando um padrão relacionado ao Filho. Vejamos o que diz Shri Mataji sobre Jesus Cristo:
“Cristo é a corporificação do Espírito.”
Palestra intitulada Como é possível ter a realização tão rápido? 17/03/1983
“Ele é aquele que é capaz de sugar nosso ego e superego”
Palestra sobre Vishuddhi e Agnya chakras, 31/03/1981
“Cristo veio a esta Terra para nos redimir do nosso ego e superego e, simbolicamente, ele teve que atravessar essa área apertada (Agnya)…Ele sofreu do microcosmo (de sua forma humana) um sofrimento macrocósmico… Mas eles não sofrem, pois são testemunhas…” Palestra intitulada Os poderes que vêm com o segundo nascimento, 02/11/1987
“A mensagem da sua vida é a ressurreição.” Palestra intitulada O último julgamento começou, 02/10/1980
“Ele se tornou puro Espírito, puro Brahma tattwa quando ele ressuscitou” Puja e Havan de Páscoa, 11/04/1982
“Ele era o Filho do Todo-Poderoso; ainda assim, Ele não tinha nenhum ego” Festividades do Diwali, 10/11/2007
Da mesma forma simbólica como a cabeça de Shri Ganesha foi substituída com sucesso por Shri Shiva (o Espírito), Shri Jesus (sendo Ele próprio a corporificação do Espírito e também do Filho) simbolicamente também sacrificou, em seu próprio ser, o ego e o superego cósmico (simbolizado por sua crucificação/morte), ressurgindo/ressuscitando depois em puro espírito (simbolizando o segundo nascimento, e, portanto, sua vitória sobre o ego e o superego, ou seja, sobre aquilo que nos afasta de Deus).
Parte III: A concepção imaculada e renascimento dos sahaja yogues
O padrão da concepção imaculada do Filho, visto na figura de Shri Ganesha e de Shri Jesus, se repete na concepção dos sahaja yogues. Vejamos o que diz Shri Mataji:
“Shri Ganesha foi criado através de uma concepção imaculada. Vocês foram criados da mesma forma.” Shri Ganesha Puja, 30/08/1992
“Ela criou vocês no mesmo padrão de Shri Ganesha. Vocês têm todos os poderes que Shri Ganesha tem. Nenhum deus pode chegar tão próximo a Mim como vocês podem.” Shri Ganesha e Shri Gauri Puja, 04/04/1981
O padrão de renascimento do Filho, visto na substituição da cabeça de Shri Ganesha por Shri Shiva e na ressurreição de Shri Jesus após suprimir o ego e o superego também se repete nos sahaja yogues. Vejamos o que diz Shri Mataji:
“…Eu dei a vocês a sua realização, o seu segundo nascimento…” Palestra intitulada Khrishna, Christ, 18/10/1981
“Quando Cristo é despertado, seu ego e superego são sugados. Isso é um acontecimento. E então a Kundalini sobe e te dá a realização” Entrevista com Rafe Mair em 09/10/1981
“…Primeiro você tem a sua realização e, então, você tem sua consciência sem pensamentos.” Palestra intitulada O que é o segundo nascimento, 21/04/1980
Durante a realização do si, o desejo de Shri Gauri é realizado. O Espírito iluminado, e, portanto, unido à Kundalini, se eleva e passa pelo nosso Agnya sugando nosso ego e nosso superego, e, assim, substituindo nossa cabeça cheia de ego e superego por uma cabeça sem ego e superego (simbolizando nosso segundo nascimento) que nos permite acessar a consciência sem pensamentos. Esse acontecimento é figurado na substituição da cabeça de Shri Ganesha (simbolizando o renascimento) e também quando Cristo superou o ego e o superego cósmico e ressuscitou em pleno Brahma tattwa (também simbolizando o renascimento). Assim, estaremos em sintonia com esse nosso ser renascido do Espírito quando estivermos em meditação, em consciência sem pensamentos, tal qual é dito por Shri Mataji na palestra após o Sahasrara Puja em 04/05/1986: “…isto é meditação, onde o ego não mais existe, você está em consciência sem pensamentos…”
